Ucranianos enxergam as negociações como um espetáculo vazio e repetitivo, e afirmam que só haverá paz real com poder de fogo e não com promessas vazias.
As manchetes falam em "esperança de paz" toda vez que russos e ucranianos se sentam à mesa. Mas, para os ucranianos, essa é apenas mais uma encenação — e Istambul é o palco de mais um ato desse teatro desgastado. A cada nova tentativa, cresce a convicção de que os acordos não passam de ferramentas russas para ganhar tempo, rearmar e seguir ocupando ilegalmente o território da Ucrânia.
A percepção ucraniana é direta e sem filtros: “os russos são o que são: ladrões, estupradores e mentirosos”, como se ouve nas ruas de Kiev e Lviv. A confiança em qualquer proposta vinda do Kremlin é nula. A frase que ecoa entre soldados e civis é simples: “A paz verdadeira só virá com fogo pesado. Não se faz acordo com quem mente e invade.”
Mesmo com os recentes encontros diplomáticos, muitos ucranianos apontam que aceitar o “status quo” nas regiões ocupadas é dar um prêmio ao invasor. Isso fortaleceria Putin e abriria um precedente perigoso para o mundo. Para a Ucrânia, é impensável ceder 20% do próprio território com um aperto de mão.
A dura realidade é que, mesmo com toda a coragem e resistência demonstradas até aqui, a Ucrânia enfrenta um impasse. A ajuda ocidental, ainda que real, tem sido insuficiente em volume e constância. Putin sabe disso. E sabe também que o Ocidente (Diga-se Europa) fala alto, mas age baixo ou como se diz por aqui: Late muito e nada morde.
A pergunta que paira no ar é: um impasse no campo de batalha pode servir de base para um cessar-fogo ou um acordo de paz? Para muitos, não. Um cessar-fogo pode congelar o conflito, mas não resolve a causa. E um acordo de paz, nessas condições, soaria como rendição disfarçada.
Para completar o ceticismo, há pouca expectativa de mudança vinda dos Estados Unidos. Com o Trump ao poder, a confiança na atuação norte-americana é mínima ou nada. O que resta à Ucrânia, segundo muitos analistas locais, é continuar resistindo — e torcer para que a sua coragem prevaleça mais uma vez, fale mais alto que os discursos diplomáticos vazios.
Ronny Santos
Editor de Internacional