Especialistas apontam caminhos para impedir o esvaziamento do jornalismo: de bloqueios técnicos à regulamentação do uso de conteúdo por inteligência artificial.
Com a explosão dos AI Overviews na busca do Google, muitos portais — especialmente os menores — se veem diante de um dilema: produzir conteúdo para ser lido por pessoas ou para ser consumido gratuitamente por uma máquina?
A boa notícia é que existem alternativas reais e já debatidas em diversos países para defender o conteúdo jornalístico da apropriação indevida por sistemas de IA generativa. A seguir, destacamos algumas das principais soluções técnicas, jurídicas e estratégicas para enfrentar esse novo cenário:
1. Implementar Bloqueios no Código (robots.txt e metatags)
Sites podem usar comandos específicos para impedir que rastreadores de IA coletem seu conteúdo, como o User-agent: Google-Extended
combinado com Disallow: /
. Embora não impeça completamente, já representa um posicionamento legal e técnico importante.
2. Pressionar por Modelos de Licenciamento Remunerado
Assim como empresas como a OpenAI firmaram acordos pagos com editoras nos EUA e Europa, o Brasil pode exigir compensações financeiras pelo uso de conteúdo jornalístico em sistemas de IA. Isso exige união institucional da mídia.
3. Desenvolver Modelos Próprios de Busca e IA Regionalizada
Portais podem investir ou se unir para criar mecanismos alternativos de descoberta de conteúdo, com curadoria humana e algoritmos próprios, valorizando conteúdo local. Plataformas de TV em Nuvem já são um exemplo viável de independência digital.
4. Exigir Transparência na Indexação e Rastreamento
A regulamentação precisa obrigar o Google e outras Big Techs a informarem com clareza o que está sendo coletado, como será usado e como impedir o uso indevido, sob pena de multa e sanção.
5. Produzir Conteúdo com Valor Agregado e Identidade Única
Artigos com entrevistas exclusivas, investigações, reportagens de campo e curadoria humana são menos propensos a serem substituídos por IA. O que tem assinatura e voz própria, resiste.
O papel do legislativo e da união editorial
Alguns parlamentares já sugerem que a Lei de Direitos Autorais e o Marco Civil da Internet sejam atualizados para garantir que portais possam escolher como e se seu conteúdo será usado por sistemas de IA. Isso incluiria regras de remuneração, limites de citação automática e rastreamento transparente.
Além disso, o setor editorial precisa falar com uma só voz — não apenas por meio de entidades nacionais, mas também criando consórcios que compartilhem ferramentas, estratégias e até tecnologias próprias.
Convite para o Próximo Artigo:
No próximo artigo da série, você vai conhecer exemplos concretos de países e grupos de mídia que já estão vencendo a batalha contra a IA generativa — e como o Brasil pode seguir o mesmo caminho com inteligência e estratégia.