Uma reunião no Alasca entre Trump e Putin pode ir muito além da diplomacia — abrindo caminho para narrativas de derrota do Ocidente e reforçando a aliança estratégica Moscou–Pequim.
O possível encontro de Donald Trump com Vladimir Putin em Anchorage, Alasca, não é apenas uma curiosidade diplomática. É, para muitos analistas, uma armadilha geopolítica de alto risco. O gesto, carregado de simbolismo histórico — já que o Alasca foi território russo até 1867 — pode ser explorado pelo Kremlin como prova de “capitulação” dos EUA e celebrado com slogans do tipo “A Crimeia é nossa, o Alasca será nosso novamente”.
No tabuleiro internacional, a imagem é ainda mais complexa: a reunião poderia ser enquadrada como uma retirada estratégica do Ocidente, reforçando a retórica de que o inimigo “está derrotado e recua”. Em sequência, Xi Jinping e Putin teriam terreno fértil para apresentar, em cúpulas e eventos militares como o desfile de 3 de setembro em Pequim, a narrativa de que o eixo China–Rússia dita o rumo das mudanças globais.
O risco, segundo críticos, é que Trump, movido por narcisismo e fascínio pessoal por Putin, se alinhe de forma ingênua à chamada “Coalizão do Mal” liderada por Pequim. Nesse jogo, Putin atua como braço operativo de Xi, e qualquer gesto simbólico — como negociar em “território inimigo” — reforça a posição chinesa.
O Ártico é outro ponto sensível. Em Washington, acredita-se que o diálogo com Moscou poderia frear o avanço chinês pelo Estreito de Bering. Porém, Moscou e Pequim pensam diferente: se a Rússia “recuperar” o Alasca, o acesso ao Ártico se torna estratégico para a China. É o que manda Sun Tzu: “A guerra é o caminho da trapaça e do engano” — algo que o Império do Meio domina como poucos.
E a armadilha vem embalada em promessas tentadoras: o desenvolvimento conjunto de recursos do Ártico, que Trump vislumbra como um grande negócio. Mas, como lembram analistas, o exemplo do gigantesco depósito de terras raras de Tomtorskoye, entregue à Rosneft de Igor Sechin e não à tradicional Norilsk Nickel, mostra que a Rússia sabe atrair parceiros para acordos que nunca saem do papel.
No fim, o encontro no Alasca não seria apenas um gesto de diálogo. Poderia simbolizar o desmonte final de acordos internacionais fundamentais, como a Carta da ONU e o Ato Final de Helsinque, pilares da estabilidade europeia no pós-Segunda Guerra Mundial. Uma jogada com aparência de “diplomacia de alto nível” que, na prática, poderia rebaixar a posição dos EUA no cenário global — e fortalecer, como nunca, o eixo Moscou–Pequim.