Um simples exame de rotina se transformou em um drama para um paciente de Campinas. Após análise equivocada do serviço de anatomia patológica da Unicamp, ele recebeu o devastador diagnóstico de Linfoma Não Hodgkin, um tipo de câncer do sistema linfático. Sem saber que havia um erro, o paciente iniciou tratamento quimioterápico agressivo, enfrentando todos os efeitos colaterais: náuseas, dores, neuropatia febril, medo e desespero.
A perícia oficial, realizada pela médica Silvia Graziane, do Instituto de Medicina Social e de Criminologia de São Paulo (IMESC), apontou falhas graves:
“O periciando não foi tratado de acordo com a prática médica de costume, por diagnóstico equivocado do serviço de anatomia patológica. Não havia informação prévia de que o paciente era portador de doença autoimune, o que levou à interpretação errada de Linfoma Não Hodgkin de baixo grau de malignidade”, descreveu a especialista.
O caso foi julgado pelo juiz Francisco Magdalena, da 2ª Vara da Fazenda Pública de Campinas (SP), que reconheceu o sofrimento extremo causado pelo erro.
“É inegável o profundo abalo psicológico e o sofrimento físico imposto a um indivíduo que recebe um diagnóstico de câncer e é submetido a um tratamento agressivo como a quimioterapia, para depois descobrir que tudo foi um equívoco”, afirmou o magistrado em sua decisão.
“O autor foi exposto não apenas aos severos efeitos colaterais, mas também à angústia, ao medo e à incerteza inerentes ao diagnóstico de uma doença tão grave.”
A sentença fixou inicialmente indenização de R$ 50 mil por danos morais, a ser paga pelo Governo do Estado de São Paulo, responsável pelo hospital universitário. No entanto, a defesa do paciente considerou o valor insuficiente diante da gravidade do caso, e deverá recorrer para majorar a indenização em segunda instância.
Casos como este expõem uma questão estrutural: a pressa e a falta de protocolos rigorosos em diagnósticos hospitalares, especialmente nos serviços públicos de alta demanda. O erro médico não é apenas uma falha técnica, mas uma ruptura na confiança entre o paciente e a instituição que deveria cuidar da sua saúde.
A decisão da Justiça de Campinas reforça a necessidade de transparência, revisão de laudos e protocolos diagnósticos mais seguros. A tragédia poderia ter sido evitada se houvesse dupla checagem e comunicação clara entre os setores da patologia e da clínica médica.
Um diagnóstico errado não é apenas um papel trocado — é uma sentença emocional. A reparação judicial alivia, mas não devolve o tempo, a dor e a confiança perdidos.
“Quando o erro médico se torna crime: até onde vai a responsabilidade civil e penal dos profissionais de saúde?”
Acompanhe a sequência completa sobre os bastidores da Justiça nos casos de negligência médica.