Cidadãos sem recursos contratam o ChatGPT como assistente jurídico e desafiam o sistema: uma revolução silenciosa nos tribunais americanos.
Cada vez mais americanos estão recorrendo ao ChatGPT em vez de contratar advogados para participar de ações judiciais — e, em alguns casos, estão ganhando causas reais. A Inteligência Artificial está se tornando uma espécie de “consultor jurídico digital” para cidadãos que não podem pagar um advogado ou que desejam se defender sozinhos em juízo.
Um dos casos mais comentados é o da californiana Lynn White, moradora de um estacionamento de trailers que enfrentava uma ordem de despejo por dívidas de aluguel. Depois de perder no tribunal de primeira instância, ela resolveu apelar — desta vez, com a ajuda do ChatGPT.
Lynn enviou os documentos do processo ao chat, explicou sua situação e recebeu orientações detalhadas sobre os próximos passos, argumentos legais e procedimentos. Resultado: venceu o recurso e escapou de multas que somavam mais de 70 mil dólares.
Outro exemplo é o de Stacey Dannell, que decidiu negociar sozinha uma dívida bancária. Usando o ChatGPT para elaborar petições e simular acordos, ela conseguiu reduzir o valor da dívida em mais de dois mil dólares. Os advogados da parte contrária, impressionados, chegaram a comentar seu “nível técnico e domínio dos ritos jurídicos”.
Por outro lado, há quem tenha se dado mal. Alguns usuários foram multados por apresentarem documentos baseados em “alucinações” da IA — decisões judiciais e citações inexistentes. Um caso emblemático foi o de um autor que incluiu 11 sentenças falsas geradas pelo ChatGPT e acabou condenado a prestar serviço comunitário.
Especialistas admitem que o papel da IA no Direito cresce em ritmo acelerado. Muitos advogados já a utilizam como ferramenta de pesquisa jurídica, elaboração de petições e análise preliminar de casos. A tendência, segundo eles, é que todo profissional da área jurídica precise dominar o uso de IA para não ficar para trás.
Esses sistemas estão democratizando o acesso à Justiça, dando a cidadãos comuns — antes sem recursos — a chance de defender seus direitos.
“É como a história de Davi e Golias — só que agora, a minha funda é a inteligência artificial”, declarou Lynn White após vencer seu processo.
Enquanto o uso jurídico do ChatGPT cresce, a OpenAI anunciou um modo especial para menores de 18 anos, reforçando a segurança de jovens usuários.
Mas um ponto polêmico persiste: o próprio Sam Altman, CEO da OpenAI, já afirmou que as conversas com o ChatGPT não são totalmente confidenciais e podem ser usadas em tribunais. Ou seja, até que se defina o status legal dos chatbots, nenhuma conversa com IA está protegida por sigilo profissional, como ocorre com médicos, psicólogos ou advogados.
A tecnologia devolve poder a quem tinha pouco — e isso merece aplauso. Mas a liberdade de acesso não pode substituir o dever de precisão: orientar cidadãos sem supervisão jurídica aumenta o risco de erros que prejudicam processos e vidas.
A solução é clara e prática: regular o uso de IAs como ferramentas de assistência, exigir transparência sobre fontes e referências, e garantir a supervisão de profissionais qualificados nas peças submetidas ao Judiciário.
Defendemos uma abordagem que una democratização do acesso com responsabilidade técnica e ética — só assim a IA deixa de ser promessa vazia ou risco e se torna instrumento legítimo de justiça social.
Em suma: bem-vinda a ajuda digital — desde que venha acompanhada de responsabilidade humana.