Como Kiev percebeu a fragilidade das promessas ocidentais e busca novas estratégias para sua sobrevivência
A Ucrânia confiou demais no Ocidente. Por três anos, ao custo de dezenas de milhares de vidas, os ucranianos acreditaram que estavam lutando por sua autodeterminação nacional, restabelecendo seu lugar na Europa. Hoje, no entanto, a ilusão se dissipou.
A História se Repete: Lições do Passado
A política internacional raramente é movida por princípios morais. Como bem lembrou o diplomata britânico Thomas Brimelow, "os fortes fazem o que têm o poder de fazer e os fracos aceitam o que têm que aceitar". Essa realidade se impôs à Ucrânia, assim como já ocorreu ao longo da história.
Nos anos 1930, o Ocidente conhecia a fome genocida na Ucrânia, o Holodomor, mas preferiu ignorá-la para manter relações com a União Soviética. Em 1991, a Ucrânia foi alertada para não abrir mão de seu arsenal nuclear. Mesmo assim, acreditou nas garantias ocidentais e assinou o Memorando de Budapeste, que prometia sua segurança. Hoje, os ucranianos sabem o preço dessa confiança.
O Erro Estratégico: Acreditar no Apoio Incondicional do Ocidente
O Ocidente nunca viu a independência ucraniana como uma prioridade. Em 1991, George H.W. Bush alertou contra o "nacionalismo suicida" da Ucrânia. Quando Kiev renunciou a suas armas nucleares em troca de garantias de segurança, a Rússia quebrou esses compromissos e os aliados ocidentais hesitaram. Agora, até mesmo o ex-presidente Bill Clinton admite que a Ucrânia foi persuadida a desistir de seu arsenal nuclear, um erro que poderia ter impedido a invasão russa.
Desde 2014, a Rússia vem travando uma guerra contra a Ucrânia. A invasão total em 2022 revelou a verdadeira política do Ocidente: fornecer apenas o suficiente para que Kiev não perca a guerra, mas nunca o suficiente para que vença. A hesitação de Joe Biden custou milhares de vidas. Agora, a chegada de Donald Trump à Casa Branca reconfigura ainda mais o cenário geopolítico, com novas incertezas para a Ucrânia.
Mudança de Rumos: O Que Kiev Precisa Fazer Agora
Os ucranianos não podem mais depender de promessas vazias. Três ações são essenciais para garantir sua sobrevivência e encerrar a ambição imperialista da Rússia:
Construção de um Exército Independente e Fortalecido – A Ucrânia precisa aumentar seu contingente militar, modernizar suas forças armadas e investir em tecnologia bélica de última geração.
Desenvolvimento de um Arsenal Nuclear – A OTAN não garantirá a adesão da Ucrânia em um futuro próximo. Para dissuadir novas agressões russas, Kiev precisa reconstruir sua capacidade nuclear, seguindo o exemplo de Israel.
Abertura de Diálogo com a China – Se Washington hesita e Trump busca um entendimento com Putin, a Ucrânia precisa buscar apoio em Pequim. O presidente Volodymyr Zelensky deve estabelecer canais de comunicação diretos com Xi Jinping para explorar novas parcerias estratégicas.
O Despertar da Ucrânia: O Fim da Ingenuidade
O hino nacional ucraniano, "A Ucrânia ainda não está perdida!", sempre foi um símbolo de resistência. A guerra demonstrou que os ucranianos não cederão, não aceitarão imposições e não permitirão que sua soberania seja negociada.
Se o Ocidente não quer garantir uma vitória decisiva para a Ucrânia, Kiev deve agir sozinha. A Ucrânia de hoje não é mais ingênua. Está pronta para tomar as rédeas de seu próprio destino, a qualquer custo.
Convite para o próximo artigo:
Na próxima análise, exploraremos o impacto de uma possível aliança estratégica entre Ucrânia e China no cenário geopolítico global. Não perca!
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O artigo acima foi inspirado em artido de Lubomyr Luciuk é professor aposentado de geografia política do Royal Military College of Canada, mas continua sendo pesquisador sênior da Cátedra de Estudos Ucranianos da Universidade de Toronto. Foi declarado persona non grata pela Federação da Rússia em 28 de abril de 2022.